O COZINHEIRO DILIGENTE
O Songo é uma Vila localizada em Moçambique, na Província de Tete, distrito de Cahora Bassa.
É uma Vila que está em tudo ligada ao gigantesco empreendimento que é a barragem e por estar a uma distancia de mais ou menos doze kilometros, é nela que se situa a sede da empresa Hidroeléctrica de Cahora Bassa.
Tem actualmente 89.950 habitantes e uma área de 10.590 km2.
A barragem de Cahora Bassa é actualmente a maior produtora de electricidade de Moçambique, tem uma extensão de 250Km em comprimento e 38km de afastamento entre margens e uma profundidade de 38 metros.
Também eu em tempos idos estive ligado a Cahora Bassa e a morar no Songo.
África é um Continente deveras propício a histórias hilariantes, como as que vos vou contar.
É normal quando um Europeu chega a África para se instalar por afazeres ocupacionais, acorrerem logo dezenas de indígenas a oferecer os seus serviços a troco de mísera recompensa financeira.
Aconteceu a um colega meu que contratou dois africanos, um para as limpezas da casa e do quintal, o chamado “mainato” e o outro, um dito “cozinheiro” a quem a Senhora perguntou se sabia matar, arranjar e cozinhar um coelho?
A resposta foi naturalmente afirmativa.
Que sim senhora até era a especialidade dele!..
No dia seguinte a Senhora arranjou um coelho vivo para ele matar, arranjar e cozinhar.
A Senhora confiou no seu grande especialista cozinheiro, foi às compras e quando regressou a casa, na cozinha esperava-a a seguinte cena:
O especialista cozinheiro tinha o coelho já sem cabeça, dentro de um alguidar cheio de água quente e a ser depenado com se faz a uma galinha.
Resultado:
Como a Senhora também pouco mais sabia que o “especialista cozinheiro” se quiseram almoçar tiveram que ir ao Restaurante, excepto o cozinheiro que foi naturalmente despedido.
Na altura aos serões convivia-se muito entre os colegas de trabalho, bebiam-se uns copos, contavam-se estas e outras peripécias, que eram naturalmente motivo para longas e divertidas risadas.
Todos tinham a sua experiencia para contar, quantas vezes apimentavam ainda mais um pouco a história para ela ser mais convincente, ter mais impacto, prolongar mais a risada e a boa disposição.
Dizia outra Amiga, contando a sua experiencia:
- “Não me admiro nada porque o meu cozinheiro fez-me uma canja de galinha com a galinha inteira, com vísceras e tudo o mais, apenas a tinha depenado.”
Mas, além destes casos, o que deu mais “brado” foi o do Engenheiro Carvalhosa em Cahora Bassa.
Este Engenheiro gabava-se que o seu cozinheiro era o mais predestinado do Burgo.
Fazia petiscos que eram de comer e chorar por mais.
Só tinha um problemazinho, gostava da pinguinha e quase todos os dias a garrafa de whisky que o Engenheiro tinha no bar levava um “rombo.
Até que um dia, o Engenheiro Carvalhosa resolveu pôr a nu a situação e aproveitando a garrafa estar quase no fim, perdeu o amor àquele resto de Whisky e vá de urinar para dentro da garrafa, fez uma marca no rótulo de modo a confirmar a falta do precioso líquido.
No dia seguinte, como era hábito, o Engenheiro chega a casa á hora do almoço, esfomeado … e numa “penada” devorou os bifes e as batatas fritas que o seu cozinheiro lhe tinha preparado.
Seguindo o ritual do costume, o cozinheiro traz-lhe o cafezinho e a garrafa de Whisky.
Aí… o bom do Engenheiro, lembrando-se da patifaria que tinha feito no dia anterior, questiona o Cozinheiro:
- “Então você anda a beber do meu Whisky”?
- “Eu não patrão, eu nunca faria uma coisa dessas”.
- “Então como explica que estando o Whisky por este risquinho que aqui está, agora está dois dedos mais abaixo?”
-“ Fui eu que meti nos bifes do patrão”!
“NÃO FAÇAS MAL ÀS TENSAS QUE DAÍ TE VENHA BEM”.
Segundo se constou o Engenheiro tomou uma tal aversão ao Whisky que nunca mais comeu bifes nem bebeu tal líquido.
Também deve ter sido motivo de gargalhada na sanzala, gargalhadas de partir o “coco” a rir, quando o cozinheiro Macário, nos seus serões de verão, iluminados por uma fogueira e ao som do batuque, contava estas peripécias aos seus conterrâneos, enquanto engolia uns copos de aguardente de cana, destilada na sua palhota de colmo e arredondada, esta sim caseira, pura e forte, sem baptismos do Engenheiro Carvalhosa.
Venâncio Rosa
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